Estou transcrevendo aqui um post do maddog.
Esse cara realmente merece a fama que tem. – Ídolo 😉
Por Jon ‘maddog’ Hall
Caro Presidente Obama, Parabéns pelo pacote de incentivo. Espero que ele ajude a economia a se recuperar.
Uma coisa que poderia ajudar é a eliminação dos aproximadamente cinco bilhões de dólares por dia que desperdiçamos como uma economia mundial com softwares proprietários de código fechado.
Como cheguei a essa cifra? Existem aproximadamente um bilhão de computadores no mundo, sendo 900.000.000 desktops. A grande maioria (aproximadamente 90 por cento) são proprietários de código fechado. Isso significa que o usuário final depende do fabricante para solucionar falhas que podem ocorrer, ou para criar as melhorias de que o consumidor precisa para fazer seu trabalho. Ninguém além do fabricante é capaz de fazer isso, pois somente o fabricante possui o código-fonte do software.
Isso coloca automaticamente o fabricante do software de código fechado como O especialista nesse software, e O gargalo na obtenção de uma solução, e ajuda a eliminar a concorrência de pequenas empresas locais.
O senhor é um presidente do século XXI. Diferentemente de seu antecessor, o senhor provavelmente usou computadores durante a faculdade, talvez até no ensino médio. Quantas vezes seu computador travou? QUantas vezes o senhor perdeu suas monografias ou planilhas que estava desenvolvendo? Quanto tempo o senhor perdeu digitando novamente essas informações? Uma hora? Três horas? Quanto vaia seu tempo? Até o tempo de um estudante universitário vale algo!
Harvard é uma escola bem cara. Vejo em seu site que eles estimam que os gastos anuais para um aluno são entre 50 e 52 mil dólares. Isso inclui os US$ 1.426 da taxa de serviços de saúde, mas não os US$ 1.404 anuais do pacote de seguro de saúde (não me surpreende o senhor conhecer o alto custo dos planos de saúde). Vamos arredondar o valor total para US$ 54.000.
Com 8760 horas num ano útil para um aluno de Harvard (todo mundo sabe que os alunos de Harvard trabalham 24 horas por dia, sete dias por semana… bem, exceto seu antecessor… e Bill Gates…), isso significa que a hora do senhor valia aproximadamente US$ 6. Então, mesmo que o senhor tenha perdido apenas uma hora por dia, o desperdício ainda era maior que seis dólares, porque o software não fazia o que o senhor queria que fizesse.
Gerentes de empresas sofrem ainda mais. Os empregadores gastaram aproximadamente US$ 29,18 por hora (dados publicados pelo seu Departamento do Trabalho, sr. Obama) durante dezembro de 2008. Isso significa que os softwares só porecisaram fazer seus funcionários perderem dez minutos por dia para ficarem equivalentes à minha perda alegada de cinco dólares por dia.
O que esses softwares poderiam fazer para causar essa perda de tempo de seus funcionários? Já discutimos os travamentos ou congelamentos do software, mas há outros problemas.
Talvez o software que seus funcionários adquiriram não funcione no hardware que eles possuem. É preciso fazer um upgrade do hardware. Isso leva tempo e esforço, assim como um conjunto potencial de armadilhas. Mas é preciso fazer o upgrade, pois o fabricante não oferecerá suporte a novos hardwares que surgirem após o lançamento dos softwares mais antigos. E os softwares mais antigos não serão suportados com patches de segurança, o que deixará as máquinas expostas à Internet. Talvez os softwares venham a ser atacados por um vírus. O cliente, portanto, perdeu controle sobre seus softwares, e consequentemente sobre sua empresa.
Não é preciso ir muito longe para experimentar essa vista, Presidente Obama.
Talvez o software que o senhor adquiriu não se comunique bem com os softwares de outros sistemas. O senhor não pode alterar nenhum dos produtos de software, então talvez o senhor tente criar algo conjunto, ou o senhor pode ter que modificar manualmente os ados para levá-los de um sistema para o outro.
Tenho um amigo que é dono de um restaurante e usa um sistema de código fechado para ponto de venda. Ele gasta um dia por mês digitando suas faturas de materiais adquiridos, pois o software não permite que ele baixe a informação. Ofereci-me para automatizar esse processo para ele, mas ainda não conseguimos pensar numa forma de fazer com que o software o fizesse automaticamente. Ele ainda gasta um dia por mês fazendo isso.
Talvez o software não estivesse no idioma nativo da pessoa. Hmmm, seu pai veio do Quênia, certo? Ele teve sorte, pois o Quênia era uma colônia britânica, e ele deve ter aprendido inglês ainda jovem. Mas e se ele fosse da Etiópia e não falasse inglês? As pessoas costumam trabalhar melhor em sua língua materna, então é bom quando o software de que precisam suporta esse idioma. Mas e se ele não o suportar? E se o mercado para esse idioma for tão pequeno que a empresa que fabrica o software não tiver “interesse comercial” em suportá-lo?
O idioma oficial da Etiópia é o amárico, falado nativamente por 27 milhões de pessoas. Quando fui num encontro das Nações Unidas em Adis Abeba em 2007, a Microsoft ainda não suportava o amárico, e afirmou que continuaria assim pelo menos até 2009. O Ubuntu Linux suportava amárico, mesmo já em 2007.
Com o Software Livre, o cliente sempre tem o controle. Ele, não o fabricante do software, decide se quer alterar o software para incluir suporte a seu idioma nativo, ou se ter uma nova extensão é ou não uma boa decisão de negócios. Se o cliente não tiver os conhecimentos para tomar e implementar essas decisões, ele pode contratar alguém para fazê-lo.
Talvez o cliente esteja esperando uma melhoria no software que adquiriu de uma empresa muito grande. Bem, ele precisa ficar na fila com outros 800 milhões de pessoas. Ele não tem controle direto sobre as melhorias de seu software, e podem apenas “influenciar” o fabricante para executá-las da forma como ele deseja. A menos que seu nome seja “GM” ou “Ford” ou “Governo dos EUA”… ah, espere, acho que o senhor tem alguma influência, Presidente Obama… talvez.
Mas as empresas menores, as que conhecemos como “Pequenas e Médias Empresas”, responsáveis por 50% do PIB dos Estados Unidos (e de vários outros países) têm pouca influência sobre esses grandes fabricantes de software para alterar o código-fonte. Então essas pequenas e médias empresas esperam e esperam.
Por falar em esperar… Sr. Obama, por acaso o senhor telefonou para o suporte de alguma empresa de software ultimamente? O senhor conseguiu alcançar o que queria? Eles conseguiram ajudar? O senhor precisou assegurar-lhes que o mouse estava conectado? Quantas vezes o senhor foi desconectado na fila de atendimento? Ah, agora o senhor tem um assessor que faz isso?
Quanto o senhor paga para seu assessor? E onde se localiza o grupo de suporte desse software? Eles falavam com sotaque e estavam na Índia ou China? Isso ajuda o povo americano com relação a empregos?
Agora, digamos que o senhor esteja usando Software Livre e de Código Aberto. O software congela (acontece). Em vez de ligar para o suporte na Índia, o senhor liga para seu especialista local em Software Livre. Ele tem acesso ao código-fonte do software que o senhor está usando. Ele ajuda o senhor a encontrar e solucionar o problema. Em seguida ele envia a correção para a pessoa que criou o software.
Talvez o senhor precise de um novo recurso no software. O senhor pode ligar para o mesmo especialista local em Software Livre. Ele estimará quanto a extensão custará. O senhor, como homem de negócios, pode decidir se vale a pena usar o software como está ou se deve investir na extensão. Mas independentemente do que o senhor decidir, a decisão é SUA, e não de alguma outra empresa.
Por último, existe a questão de “dividir a riqueza”. Eu e o senhor já lemos de verdade a constituição dos Estados Unidos. Diferentemente de 80% da população dos EUA, sabemos que a constituição na verdade foi escrita para permitir o comércio entre as treze colônias originais. Dinheiro comum, força militar comum, impostos, tributos, até aquele pequeno escritório de patentes… tudo relativo a ganhar dinheiro. Esses “direitos” que as pessoas citam estão todos nas emendas à constituição original.
Então, para mim e o senho não é surpresa que os Estados Unidos sejam semelhantes a 50 pequenos países. Eu moro no pequeno país de New Hampshire. Além do xarope de bordo (o famoso “maple syrup” – o nosso é melhor que o de Vermont) e laticínios (não somos chamados de “Cow Hampshire” à toa), também temos algumas empresas de alta tecnologia… o senhor sabe… essas coisas de computador. Mas ultimamente New Hampshire tem tido muitas pessoas de computação desempregadas, principalmente trabalhadores de software.
Por outro lado, Redmond, em Washington, tem um grande número de milionários, todos criados porque aprenderam a tomar pedaços de plástico e gravar neles alguns dados (algo como imprimir dinheiro), cobrando um monte por esse software que às vezes funciona.
Isso faz com que um monte de dinheiro saia do meu pequeno país (New Hampshire) para outro pequeno país (Washington). Em contraste com isso, Bill Gates só é capaz de consumir uma pequena quantidade de xarope de bordo…
Então, o que eu quero fazer é “dividir a riqueza” um pouco mais, trazendo um pouco desse trabalho de volta para New Hampshire. Quero utilizar mais Software Livre no governo e nas empresas. Suporte local para empresas e governos locais, reduzindo a quantidade de tempo desperdiçado por meio de softwares personalizáveis desenvolvidos de forma colaborativa. Pode até funcionar também para o governo federal.
Agora tenho certeza de que muitas pessoas que já investiram um monte de tempo e dinheiro para ir para a cama com a Microsoft dirão quanto dinheiro e quantos empregos a Microsoft gera para a economia. Bem, com reconhecimento da própria Microsoft, as pessoas que conhecem Software Livre realmente têm melhores empregos que aquelas que trabalham com produtos Microsoft. Sinto que parte disso se deve ao maior valor das soluções que podem ser geradas, dado o Software Livre que os programadores podem produzir colaborativamente para respostas e alterar o código de acordo com as necessidades do cliente.
Aqui está meu plano para pôr mais pessoas para trabalhar e fatalmente economizar dinheiro no governo:
O pacote de incentivo financia um concurso para a melhor plataforma governamental de operações a ser criada como um projeto de Software Livre e Aberto. A melhor plataforma é escolhida, e depois os programadores de software locais de cada estado ajudam a implantar a plataforma nos níveis federal, estadual e local.
Já existem alguns exemplos de governos local, estadual e federal usando Software Livre. Pode ser interessante ter um conjunto de pacotes de software de código aberto que todos os 50 estados usem e possam adequar a suas necessidades específicas. Transparência, facilidade de intercâmbio de dados entre os níveis de governo e estados, colaboração no desenvolvimento de novas ferramentas, tudo seria possível, assim como reduzir a quantia gasta em royalties de licenças de software pelo governo.
Por falar em pagamentos de royalties, o governo federal só deve adquirir Software Livre e de Código Aberto, financiar somente projetos que distribuam livremente seu código-fonte (a menos que a segurança nacional esteja em jogo), softwares que permitam que trabalhadores locais compitam com grandes empresas em projetos e suportem o trabalho, já que trabalhadores locais podem ter tanto conhecimento do software quanto as grandes empresas.
Então, por favor colabore comigo para “dividir a riqueza”. Vamos retornar esses empregos de programação para os 50 estados, em vez de apenas dois ou três. Não me importo de ver alguns desses empregos locais de programação em locais como Kansas, Wyoming ou Chicago. Mais pessoas empregadas… mais pessoas para comprar xarope de bordo.
O senhor também poderia recriar a CCC (“Civilian Computer Corps” – “Força Civil de Computação”) para ajudar a retreinar as pessoas no uso e desenvolvimento de Software Livre, mais softwares que realmente funcionem da forma como o cliente (e isso pode ser o senhor, Sr. Obama) quer que funcione, e não da forma como seu fabricante acha que deva funcionar.
Talvez não consigamos reduzir a zero o tempo e o esforço desperdiçados em softwares de código fechado… isso é realmente difícil. Mas talvez consigamos economizar um ou dois dólares por pessoa por dia em tempo e esforço desperdiçados, adequando os softwares ao que as pessoas realmente precisa, enquanto criamos empregos de software locais (que compram comida local, imóveis locais e pagam impostos locais).
O senhor conhesse o velho adágio do governo… “Um bilhão de dólares aqui e um bilhão de dólares lá, e em breve estamos falando de dinheiro de verdade”. O contrário também é verdade. Economizar um dólar aqui e um dólar ali proporciona uma organização mais eficiente, que torna nosso país mais competitivo.
Aliás, o senhor poderia examinar o resultado do processo do Departamento de Justiça contra a Microsoft? Estava tudo indo bem até seu antecessor tomar posse…
Fonte: http://www.linuxnewmedia.com.br/maddog/economizando_cinco_bilhoes_de_dolares_por_dia