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Nossos santos pecados de cada dia

Created by Thiago Guedes on 2009-05-08 01:41:03

Tags: #reflexão  

Eu recebí um texto no e-mail que achei excelente, e uma coisa que todos devem parar para pensar. Os que já tem mais idade para mudar o quanto antes e os mais novos para não caírem no mesmo erro.


Já acordamos de mau humor. Antes de agradecermos a Deus pela boa noite que tivemos, a prece de todo dia: que saco! Mais um dia de trabalho! Não agüento mais aquele lugar nem aquela gente. Não vejo a hora de me aposentar.

Essa é a primeira e única oração. Insistimos em não sair da cama, mas é preciso. Sempre atrasados, corremos para o banho. Nossa mochila está pronta. Alguém cuidou disso. Tomamos um café, apressados, do qual sempre reclamamos. Nunca está do nosso gosto. Mal desejamos um bom dia para quem fica em casa cuidando dos nossos interesses e saímos. Já na rua acendemos um cigarro, jogamos o fósforo no chão e, mais na frente, a bituca. Tem quem limpe. Que se dane o tal do meio ambiente. E depois, gari existe pra limpar nossa sujeira.

Chegamos ao ponto do ônibus. A fila está grande. Damos um jeitinho de furá-la. Não queremos ir de pé. Mas nem sempre isso é possível. Mas vale a pena tentar afinal, o mundo é dos mais espertos. O ônibus demora e a fila cresce. Por fim ele chega e é aquela loucura. Todo mundo quer entrar ao mesmo tempo. Reclamações, xingamentos e empurrões são comuns, mas é preciso ignorá-los. Quem não agüentar, corra, desista e espere o próximo. Uma vez la dentro não é diferente. O mesmo motivo: as pisadas, os empurrões, alguém tomou o lugar de alguém etc. Há pessoas que fazem de propósito, só com o intuito de se divertir. E nós entramos no embalo. Nosso lixo vai sendo jogado pelas janelas. Todo mundo faz isso, é natural. Pra que querer ser diferente? É frescura. Quando acontece de conseguirmos um lugar, fingimos dormir para não sermos incomodados. Se o lugar é preferencial, dormimos mais profundamente. Há sempre um necessitado de pé, mas que se vire. Quem manda pegar ônibus cheio?! O que importa é o nosso conforto. O resto que se ferre. Há sempre um folgado, com o desodorante vencido, que coloca suas axilas bem no nosso nariz. Faz parte. E assim vamos seguindo, entre um solavanco e outro. O coitado do motorista, que nem sempre é coitado, só não leva nome de santo. Por que é que todo mundo adora xingar as mães dos outros? Coitadas! Tão boazinhas!

Por fim chegamos em nosso destino e descemos sem antes levar no peito quem estiver na nossa frente. Ninguém facilita a passagem, porra! Fodam-se. Queremos é descer. Chegamos na empresa, quase sempre atrasados e nem se quer desejamos um bom dia aos colegas. Não estamos com saco para gentilezas. Já entramos pensando na hora de sair. Durante a jornada de trabalho nos concentramos em nós mesmos. Não ajudamos a ninguém porque ninguém nos ajuda. Cada um tem seu papel. Essa história de solidariedade é papo furado. Coisa de quem quer levar vantagem. Se precisamos de alguém, nunca pedimos por favor nem agradecemos o favor recebido. Quando usamos o banheiro não damos descarga e jogamos papel no chão. Tem quem limpe. Faxineiro existe pra isso. No refeitório não é diferente. Deixamos a mesa e o chão coloridos. A hora do almoço, que deveria ser uma hora de confraternização, é tempo de xingar o chefe e os colegas. A comida nunca está boa. Sempre uma droga.

Assim o dia vai passando, lentamente. O relógio parece não sair do lugar. Por fim, depois de uma longa espera, o mesmo acaba. É aquela correria pra voltar para casa. É hora de enfrentar tudo de novo. Só que agora é um pouco pior porque estamos super cansados, sujos, famintos e irritados, só queremos banho, janta, televisão e cama. Mais uma vez reclamamos de tudo. Nada está do nosso agrado. No dia seguinte começa tudo de novo. Final de semana é hora do nosso lazer, ao nosso modo. Que ninguém ouse nos contestar. Esquecemos que as pessoas que moram conosco anseiam por um pouco de atenção e carinho. Elas nos amam.

Por fim, chega a tão sonhada aposentadoria. É hora de comemorar, afinal vamos viver em paz e teremos todo tempo do mundo só pra nós mesmos. Ledo engano. Não demora muito e o que era um sonho passa a ser um pesadelo. Ociosos, não agüentamos mais ficar dentro de casa. Não tem graça. Nos irritamos com tudo. Os filhos casaram e agora tem os netos para encherem o saco. Os amigos, cada um seguiu seu rumo, outros morreram. Só nos resta o papo furado na esquina, na praça ou no bar. Mas logo tudo isso perde a graça também. Já não nos suportamos. Um belo dia descobrimos que estamos velhos e rabugentos. Descobrimos, também, que não fizemos nada por alguém nem por nós mesmos. Não deu tempo. Agora só nos resta velhice, dívidas, doenças e solidão. Foi tudo que conseguimos construir ao longo de nossas vidas. Cuidado! Acorde enquanto é tempo. Você pode se tornar um desses.

Zenóbio Batista Bezerra